PROCESSOS DE EROSÃO ACELERADA NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto no âmbito do Curso Integrado Pós-Graduado em Gestão de Riscos naturais (2005)
A paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, caracterizada pelas suas vertentes acentuadas, pela dureza do xisto e pela escassez da água durante os meses secos é a expressão de uma relação singular com os elementos naturais. Segundo o projecto de candidatura apresentado à UNESCO, o seu carácter é determinado por uma sábia gestão da escassez de solo e água e pelo elevado declive do terreno, e resulta da observação permanente e intensa, e do conhecimento profundo proveniente de uma experiência de séculos, da adaptação da cultura da vinha a situação tão adversa.
Neste trabalho pretendeu-se, essencialmente, compreender a relação existente entre as técnicas de armação da vinha utilizadas na Região Demarcada do Douro (RDD) e os processos de erosão hídrica dos solos. As técnicas de armação da vinha em vertentes que foram introduzidas nos últimos trinta anos procuraram, por um lado, responder às condições naturais desta região, como por exemplo os fortes declives das vertentes, as características litológicas e os problemas de erosão e, por outro lado, às necessidades do homem, quer de ordem económica, quer com vista à modernização técnica, no sentido de melhorar as condições de trabalho e de rentabilizar os investimentos realizados. Nos anos 70 e 80, adaptaram-se e desenvolveram-se dois novos sistemas de implantação de vinha: terraços com taludes de terra (Vinha em Patamares) e a denominada Vinha “ao alto”, igualmente sem paredes.
Embora uma observação mais atenta tenha já demonstrado que em declives mais acentuados, ambos funcionam mal, aumentando o risco de erosão hídrica, ravinamentos e de movimentos em massa, experiências de campo realizadas com o intuito de quantificar a erosão nos diferentes sistemas de armação que coexistem actualmente em toda a Região Demarcada do Douro, permitiram-nos concluir que as vinhas em patamares, por não se encontrarem protegidas, nem por cobertura vegetal nem por uma boa cobertura pedregosa, ficam mais vulneráveis ao impacto da precipitação, apresentando valores de erosão hídrica 51,9 vezes superiores à das vinhas tradicionais. Além disso, a vinha em patamares é também aquela em se observaram mais ravinamentos.
Perante a manutenção da tradição e os novos desafios da modernidade, a Região Demarcada do Douro tem de encontrar um rumo. É o futuro da mais singular de todas as paisagens humanizadas de Portugal que está em risco. “O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. (…) Um poema geológico. A beleza absoluta».
SOIL EROSION IN REGIÃO DEMARCADA DO DOURO (PORTUGAL)
Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto no âmbito do Curso Integrado Pós-Graduado em Gestão de Riscos naturais (2005) Alto Douro Vinhateiro Cultural landscape, characterized by its accented slopes, by the schist hardness and water scarcity during estival months shows a singular relationship with natural elements. According to the candidature project to UNESCO, its character is determined by a wise management of the soil and water scarcity and result of the constant and intense observation and knowledge built during centuries of experience, of the adjustment of the vineyards to such hard conditions.
This work is an attempt to understand the relationship between the structures of the vineyards used in Região Demarcada do Douro and the water erosion of the lands. The structures used in this region in the last Thirty years, were possible way to take advantage of the natural conditions of the landscape, for example the slopes, the lithological characteristics and the erosion problems. On the other hand they try to respond to men’s needs – economically, technically – in order to improve the work conditions and maximise the investments already done. In the 70’s and 80’s two new systems of vineyard plantations were adapted: terraces without embankment (vinha em patamares) and what we call “vinha ao alto” equally without walls.
Although a careful observation has already showed that in accented slopes both structures don’t work very well, increasing the hazard of water erosion, gullies and mass movements. Field experiences made with the purpose of quantifying soil erosion in the different vineyard structures, existing in all region, allowed us to conclude that vineyards in terraces, because they aren’t naturally protected by vegetation or covered by stones, get more vulnerable to the impact of precipitation and show a 51,9 erosion rate higher than traditional vineyards. Besides that, vineyards in terraces are the ones which we can observe more gullies.
The Região Demarcada do Douro has to find own way if it wants to keep up with the technological development and maintain its tradition. It is the future of the most singular man-made Portuguese landscape that is in risk.