Saturday, December 03, 2005

Thursday, November 24, 2005

Natural Hazards Web Sites

Este é sem dúvida um dos melhores sítios da internet para começar a fazer uma pesquisa sobre riscos naturais!
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Thursday, November 17, 2005

PROCESSOS DE EROSÃO ACELERADA NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto no âmbito do Curso Integrado Pós-Graduado em Gestão de Riscos naturais (2005)


A paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, caracterizada pelas suas vertentes acentuadas, pela dureza do xisto e pela escassez da água durante os meses secos é a expressão de uma relação singular com os elementos naturais. Segundo o projecto de candidatura apresentado à UNESCO, o seu carácter é determinado por uma sábia gestão da escassez de solo e água e pelo elevado declive do terreno, e resulta da observação permanente e intensa, e do conhecimento profundo proveniente de uma experiência de séculos, da adaptação da cultura da vinha a situação tão adversa.
Neste trabalho pretendeu-se, essencialmente, compreender a relação existente entre as técnicas de armação da vinha utilizadas na Região Demarcada do Douro (RDD) e os processos de erosão hídrica dos solos. As técnicas de armação da vinha em vertentes que foram introduzidas nos últimos trinta anos procuraram, por um lado, responder às condições naturais desta região, como por exemplo os fortes declives das vertentes, as características litológicas e os problemas de erosão e, por outro lado, às necessidades do homem, quer de ordem económica, quer com vista à modernização técnica, no sentido de melhorar as condições de trabalho e de rentabilizar os investimentos realizados. Nos anos 70 e 80, adaptaram-se e desenvolveram-se dois novos sistemas de implantação de vinha: terraços com taludes de terra (Vinha em Patamares) e a denominada Vinha “ao alto”, igualmente sem paredes.
Embora uma observação mais atenta tenha já demonstrado que em declives mais acentuados, ambos funcionam mal, aumentando o risco de erosão hídrica, ravinamentos e de movimentos em massa, experiências de campo realizadas com o intuito de quantificar a erosão nos diferentes sistemas de armação que coexistem actualmente em toda a Região Demarcada do Douro, permitiram-nos concluir que as vinhas em patamares, por não se encontrarem protegidas, nem por cobertura vegetal nem por uma boa cobertura pedregosa, ficam mais vulneráveis ao impacto da precipitação, apresentando valores de erosão hídrica 51,9 vezes superiores à das vinhas tradicionais. Além disso, a vinha em patamares é também aquela em se observaram mais ravinamentos.
Perante a manutenção da tradição e os novos desafios da modernidade, a Região Demarcada do Douro tem de encontrar um rumo. É o futuro da mais singular de todas as paisagens humanizadas de Portugal que está em risco. “O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. (…) Um poema geológico. A beleza absoluta».
SOIL EROSION IN REGIÃO DEMARCADA DO DOURO (PORTUGAL)
Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto no âmbito do Curso Integrado Pós-Graduado em Gestão de Riscos naturais (2005)
Alto Douro Vinhateiro Cultural landscape, characterized by its accented slopes, by the schist hardness and water scarcity during estival months shows a singular relationship with natural elements. According to the candidature project to UNESCO, its character is determined by a wise management of the soil and water scarcity and result of the constant and intense observation and knowledge built during centuries of experience, of the adjustment of the vineyards to such hard conditions.
This work is an attempt to understand the relationship between the structures of the vineyards used in Região Demarcada do Douro and the water erosion of the lands. The structures used in this region in the last Thirty years, were possible way to take advantage of the natural conditions of the landscape, for example the slopes, the lithological characteristics and the erosion problems. On the other hand they try to respond to men’s needs – economically, technically – in order to improve the work conditions and maximise the investments already done. In the 70’s and 80’s two new systems of vineyard plantations were adapted: terraces without embankment (vinha em patamares) and what we call “vinha ao alto” equally without walls.
Although a careful observation has already showed that in accented slopes both structures don’t work very well, increasing the hazard of water erosion, gullies and mass movements. Field experiences made with the purpose of quantifying soil erosion in the different vineyard structures, existing in all region, allowed us to conclude that vineyards in terraces, because they aren’t naturally protected by vegetation or covered by stones, get more vulnerable to the impact of precipitation and show a 51,9 erosion rate higher than traditional vineyards. Besides that, vineyards in terraces are the ones which we can observe more gullies.
The Região Demarcada do Douro has to find own way if it wants to keep up with the technological development and maintain its tradition. It is the future of the most singular man-made Portuguese landscape that is in risk.

Wednesday, November 16, 2005

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: CAUSAS NATURAIS OU ANTRÓPICAS?

Nos últimos meses temos assistido com frequência à mediatização de fenómenos atmosféricos particularmente destrutivos: os furacões. Quase que inevitavelmente, a comunicação social associou esses fenómenos naturais a alterações do clima. Estará o clima a mudar? Será de facto o Homem, o principal responsável por essa mudança?
A história do clima é intrínseca à história do nosso planeta. Nos últimos milhões de anos, ocorreram sucessivas mudanças climáticas. Nos últimos 100 mil anos comprovaram-se já inúmeras mudanças no clima, que ocorreram em períodos de tempo de aproximadamente dez mil anos. A conhecida Idade do Gelo terminou há precisamente dez mil anos. Durante esse período, praticamente toda a Europa encontrava-se coberta de gelo. Posteriormente, entramos num período mais quente, que estatisticamente deverá estar a terminar. Ao longo destes últimos dez mil anos verificaram-se ainda algumas mudanças no clima, que embora de menor impacto a nível global, foram fortemente sentidas no território português, com subidas e descidas do nível médio da água do mar e com consequências nas actividades agrícolas. Existem registos que comprovam que no início do século XVI, o rei D. Manuel I, comia na Páscoa, uvas vindas da Madeira. É uma, entre outras provas, que nesse período o clima era mais quente que na actualidade. Nos séculos XVIII e XIX, havia neve durante todo o ano, no cimo da Serra do Marão (1415 metros de altitude). Estávamos então a atravessar um período mais frio, que ficou posteriormente conhecido como a “pequena idade do gelo”. Note-se que a Revolução Industrial ainda agora tinha começado, pelo que os impactos das actividades humanas no meio natural eram ainda muito reduzidos. Estes são alguns, entre muitos outros exemplos que demonstram que o clima sempre mudou naturalmente.
O sistema climático é muito complexo. Entende-lo na sua totalidade é uma tarefa ainda muito longe de ser alcançada. Atmosfera, correntes oceânicas, energia solar e inclinação do eixo da Terra são alguns desses subsistemas do Clima que estão constantemente a interagir. A expressão “o bater de asas de uma borboleta na China, pode provocar um furacão no Atlântico” evidencia a estreita relação entre o que um simples input num subsistema pode trazer ao sistema climático no seu todo. Quem não se lembra das terríveis consequências a nível planetário do famoso “El Niño”, que ocorre no Pacífico e se caracteriza pelo aumento “anormal” das temperaturas da água do mar como consequência da “interrupção” da corrente fria de Humboldt ao longo da costa Oeste da América do Sul? Com a manifestação do El Niño, sucederam-se inundações na Ásia, no sul de África e na Europa, enquanto que em outras regiões do mundo períodos de seca extrema trouxeram consequências dramáticas para milhões de pessoas.
O Clima está de facto a mudar. Sempre mudou e sempre continuará a mudar. Mas atribuir essa responsabilidade ao ser humano é uma atitude incoerente. Existe de facto uma associação entre o aumento da libertação de gases que intensificam o chamado “efeito-estufa” com o ligeiro aumento registado na temperatura média do ar, nos últimos cem anos. Muitas outras correlações poderiam ainda ser feitas. Mas o clima irá inevitavelmente mudar, com ou sem inputs de origem antrópica. Contudo, devemos estar conscientes que a libertação de gases para a atmosfera tem outras consequências, como as chuvas ácidas, poluição de solos, água e sobretudo do ar. No Porto e em Lisboa, é fácil encontrar uma relação directa entre os dias em que a qualidade do ar urbano apresenta valores francamente maus com a entrada de pessoas nas urgências dos hospitais Centrais, com problemas respiratórios. Todos devemos ficar preocupados com os problemas ambientais. Erosão e desertificação, poluição do ar, da água e dos solos, desflorestação, entre muitos outros colocam em risco o futuro da humanidade. Mas associar a existência de inundações e furacões, mesmo que particularmente regulares e destrutivos, com mudanças climáticas é um erro. Não só por ser imprudente, mas sobretudo porque cientificamente não é ainda possível prová-lo. E esta foi uma das razões pelas quais George Bush não assinou o acordo de Quioto. No entanto, a precaução deveria levar-nos a considerar o pior dos cenários e a fazermos da dúvida um exercício activo que apela à responsabilidade, desta vez, uma responsabilidade que não é baseada na certeza ou conhecimento infalível, mas sim, uma nova responsabilidade baseada na incerteza e para a qual deveremos procurar novas regras morais que limitem a capacidade de auto-destruição do próprio ser-humano[1]. Esta nova atitude perante a insegurança e o risco - a precaução - é uma atitude plenamente coerente com muitas outras características que caracterizam as sociedades pós-modernas, como o fim da fé no progresso sem limites, o fim da fé na Ciência como conhecimento independente e objectivo capaz de resolver todos os problemas, a preocupação relativamente ao “ambiente” como grande valor presente em todas as sociedades e as atitudes catastrofistas e milenaristas que consagram o risco como um dos eixos configuradores das sociedades contemporâneas[2].
Vivemos por isso, na chamada “sociedade do risco”. Por conseguinte, é essencial consciencializarmo-nos que “é impossível viver num ambiente totalmente livre de riscos” (KEITH SMITH, 2002) e que o termo risco implica não só a ideia de perigo e destruição, mas também as ideias de opção, prudência e responsabilidade, pelo que é importante considerar o contexto social no qual um determinado risco se manifesta, pois nem todas as sociedades partilham as mesmas percepções ao risco[3].
Quando qualquer risco se manifesta, pode ocorrer uma catástrofe[4]. E é também importante compreender que o impacto de uma catástrofe é determinado pelas condições de vulnerabilidade de uma dada comunidade. Essa vulnerabilidade não é natural, uma vez que a dimensão humana das catástrofes resulta da combinação dos aspectos sociais, culturais, institucionais, políticos e económicos específicos de cada sociedade. Por exemplo, a exposição ao risco pode variar de acordo com a ocupação, classe social, etnia, casta, idade e sexo, e, normalmente, segundo SMITH, K. (2002), são os mais pobres, os mais novos e os mais idosos que se encontram especialmente em risco. Sendo assim, o impacto de um desastre varia mais com a vulnerabilidade humana do que com a magnitude física do evento. Agora, facilmente percebemos que perante catástrofes idênticas, morram mais pessoas nos países em vias de desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. E que nos países desenvolvidos, são sempre os mais pobres os mais afectados, por ocuparem territórios particularmente susceptíveis a determinados riscos naturais. As opções de localização são, portanto, fundamentais. Planeamento e Ordenamento do Território reassumem assim um papel fulcral com implicações directas na qualidade de vida de todos nós, cidadãos, que deveríamos diariamente ter a consciência que o Planeta Terra não pertence a nenhuma geração em particular. Só assim poderemos permitir que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da Terra, preservando as espécies e os habitats naturais. Esta é a ideia principal do Desenvolvimento sustentável, o “desenvolvimento que atende ás necessidades do presente sem prejudicar a capacidade das gerações futuras atenderem ás suas próprias necessidades”[5]. Reflictam nisso.

Referências bibliográficas:

· AYALA-CARCEDO, F. J.; CANTOS, Jorge O. C. (2002) – Riesgos Naturales; Ariel Ciencia, 1ª edición, 1512p.
· GANHO, N. (1998) – O clima urbano de Coimbra. Estudo de climatologia local aplicada ao ordenamento urbano; Trabalho apresentado à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra para a obtenção do grau de Doutor em Geografia Física, Instituto de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 551p.
· GARRIDO, Carlos (1999) – África, Catástrofes Naturais e Desenvolvimento. África Studia nº2, Edição António de Almeida, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
· GARRIDO, Carlos (2001) – A Economia das Catástrofes Naturais. Economia Pura nº37, pp.77-78.
· GIDDENS, A. (1999) – Runaway World: Risk – Hong Kong. Reith lectures 1999. Lecture2, BBC. http://news.bbc.co.uk/hi/english/static/events/reith_99/week2/week2.htm.
· HARE, F. et al (1992) – Desertificação: Causas e Consequências; Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 678p.
· MARTINS, Márcio (2005) – Processos de Erosão Acelerada na Região Demarcada do Douro. Dissertação de Mestrado em Gestão de Riscos Naturais, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 197p.
· MONTEIRO, Ana; PEDROSA, António; PEDROSA, Fantina (2002) – A Vulnerabilidade da Sociedade às Catástrofes Naturais: Uma Visão Integrada Dos Riscos Naturais. Uma Carta Aberta aos Estudantes do Curso 2002/03; Comissão Coordenadora do Curso de Estudos Pós-Graduados em Gestão dos Riscos Naturais, Departamento de Geografia, Porto.
· REBELO, Fernando (2001) – Riscos Naturais e Acção Antrópica; Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, Série Investigação, 274p.
· SMITH, K. (2001) – Environmental Hazards: assessing risk and reducing disaster. London: Routledge.
· TWIGG, J. (2001) - Corporate Social Responsibility and Disaster Reduction: A Global Overview. Benfield Hazard Research Centre, London.
NOTES:
[1] MORAL ITUARTE, L.; PITA LOPEZ, M.ª F. – “El papel de los riesgos en las sociedades contemporáneas” in Riesgos Naturales, Ariel Ciencia, 2002.
[2] idem
[3] Risco é, para muitos especialistas da Análise dos Riscos, “o somatório de algo que nada tem a ver com a vontade do homem (aleatório, acaso, casualidade ou perigosidade), com algo que resulta da presença directa ou indirecta do homem, a vulnerabilidade” (REBELO, F., 2001). “Um risco resulta da probabilidade de ocorrência de um processo físico num contexto de ocupação humana” (Monteiro, A. Pedrosa, A., Pedrosa, F., 2002), sendo assim, existe risco quando um determinado fenómeno é susceptível de acarretar prejuízos directos ou indirectos (como a perda de recursos naturais e/ou económicos) a uma dada população. Recursos e riscos constituem assim a vertente antrópica e social da natureza, no sentido em que na sua própria definição é imprescindível a presença humana.
[4] Quando uma comunidade é afectada por um determinado evento de origem natural ou antrópica que destrói por completo a capacidade dessa mesma comunidade, enfrentar, e por vezes, superar, os prejuízos ou danos causados estamos presente uma catástrofe (Twigg, J., 2001).
[5] Relatório Brundtland (O.N.U, 1987)